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15 abril 2006

Mais 7...

“Se escreveste sobre os sete pecados capitais também devias escrever sobre as virtudes”. Pareceu-me ser justa a sugestão do JP. E por isso resolvi segui-la.

As virtudes principais são a fé, a esperança, a caridade, a prudência, a justiça, a força (ou fortaleza) e a temperança. A igreja dividiu-as em virtudes teologias (as primeiras três) e em virtudes humanas ou morais (as restantes quatro).

É através da fé que cremos em Deus. Seja qual for o nome que Lhe dermos. Não é preciso pertencer a uma religião para acreditarmos em Deus. Nem sequer precisamos se acreditar em tudo que a nossa religião nos diz. Eu não acredito em muitas coisas escritas na Bíblia ou ditas pela Igreja Católica (que é a Igreja a que pertenço). Mas isso não significa que eu acredite menos em Deus.

O que é a esperança? A esperança é a virtude pela qual desejamos e esperamos de Deus, com uma firme confiança, a vida eterna e as graças para merecê-la, porque Deus assim nos prometeu. Se existe uma vida após da morte? Eu espero que sim. Pode ser como os cristãos acreditam, ou como os muçulmanos, ou os judeus, ou os budistas ou até como os antigos egípcios (não podia faltar). Não me interessa. Não posso é acreditar que tudo acaba com a morte. Mas pelo sim, pelo não, vou fazendo os possíveis para gozar o máximo da vida.

A caridade não é mais do que amarmos o nosso semelhante com amor filial e fraterno. No fundo, amarmos os outros como a nós mesmos. Nos nossos dias, há pouca caridade porque há muitos que amam os outros sem se amarem a eles próprios e muitos que se amam mais do que aos outros. É uma pena que não possa haver uma média para que o mundo pudesse ser um mundo melhor.

A virtude que dispõe da razão prática para discernir, em toda circunstância, o bem do mal e escolher os meios justos para realizá-lo é chamada de prudência. Escolher o caminho do bem nem sempre é fácil, não porque ele seja difícil de seguir mas porque, muitas vezes, é difícil de distinguir. Às vezes, só me apercebo que fiz más opções depois de ver os resultados e nessa altura já é tarde. Mas isso nem é o pior. O pior mesmo é quando faço más opções e nem me apercebo do quão más elas são.

Justiça. Hum. Será que vale a pena falar de justiça? Segunda a Igreja Católica, “a justiça é a virtude que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido”. Nos dias que correm, toda a gente se queixa da justiça. Ninguém é justiçado. Ou melhor, ninguém se sente justiçado. Basta abrir os jornais ou falar com um grupo de pessoas para a frase “não é justo” surja mais do que uma vez. Falta saber se têm razão ou se já é hábito…

A força, como virtude, não é a força física de cada um. É a força moral que nos permite ter prudência. Para escolhermos o caminho certo ou para reconhecermos que escolhemos o caminho errado é necessária muita força de espírito. Mas para perdoarmos não é precisa menos coragem.

Por fim, a temperança é virtude que modera a atracção para os prazeres sensíveis e procura a moderação no uso dos bens criados. Pareceu-me bem utilizar uma frase profunda para terminar as virtudes. A temperança não significa que uma pessoa se tenha que privar dos prazeres da vida. Isso não seria uma virtude, mas sim um pecado. A temperança é a moderação que nos permite ser senhores dos nossos prazeres e não escravos deles. É poder desfrutar deles porque queremos e por isso desfrutar também da nossa liberdade. Sem a temperança somos prisioneiros dos nossos vícios e pior do que isso, somos prisioneiros de nós próprios.


Depois de ter escrito isto tudo, só me basta terminar com um pensamento: as virtudes são muito mais bonitas, mas os pecados são muito mais interessantes! LOL

[Obrigada, McBrain, pela "censura" ;)]

2 comentários:

Anónimo disse...

Para mim, a fé, não é apenas o crer num Deus, pode ser bem mais...
Ter fé nos homens, na natureza. Afinal de contas, o Homem foi feito à imagem de Deus (agora está muito desvirtuado!!!).

Na caridade, o que é amor filiar?!?!?! LOL
Acrescento mais um pormenor: fazer de coitado para ter a caridade dos outros... Isso também ajuda a desiquilibrar a baçança...

Na virtude, o que conta são as intenções, afinal de contas, errar é humano! Se não arriscarmos, se não decidirmos, se não avançarmos, nunca poderemos ter a certeza se a decisão é boa ou má! Temos é de ter uma "virtude" em depois da decisão tomada discernir se ela foi boa ou má, e consequentemente repeti-la num futuro ou não!

Na justiça, eu acho que deve-se aplicar uma "máxima": O que é justo que se faça sobre os outros pode não se-lo para mim...

Para terminar, é evidente que o fruto proibido é o mais apetecido. Mas eu considero que tanto os 7 pecados mortais como as 7 virtudes devem ser regadas com muita vida e devem de ser bem doseadas. O que seria dos nossos pratos favoritos sem uma pitada de sal? Tudo o que é em excesso é mau!!!

GM

Anónimo disse...

O que é uma virtude? É uma força que age, ou que pode agir. Assim a virtude de uma planta e de um remédio, que é tratar, de uma faca, que é cortar, ou de um homem, que é querer e agir humanamente. Esses exemplos, que vêm dos gregos, dizem suficientemente o essencial: virtude é poder, mas poder específico. A virtude do heléboro não é a da cicuta, a virtude da faca não é a da enxada, a virtude do homem não é a do tigre ou da cobra. A virtude de um ser é o que constitui seu valor, em outras palavras, sua excelência própria: a boa faca é a que corta bem, o bom remédio é o que cura bem, o bom veneno é o que mata bem...Note-se que, nesse primeiro sentido, que é o mais geral, as virtudes são independentes do uso que delas se faz, como do fim a que visam ou servem. A faca não tem menos virtude na mão do assassino do que na do cozinheiro, nem a planta que salva mais virtude do que a que envenena. Não, claro, que esse sentido seja privado de todo e qualquer alcance normativo: qualquer que seja a mão e na maioria dos usos, a melhor faca será a que melhor corta. A sua capacidade específica também comanda sua excelência própria. Mas essa normatividade permanece objectiva ou moralmente indiferente. À faca basta cumprir sua função, sem a julgar, e é nisso, certamente, que sua virtude não é a nossa. Uma faca excelente nas mãos de um homem mau não é menos excelente por isso. Virtude é poder, e o poder basta à virtude.

Mas ao homem não. Mas à moral não. Se todo ser possui um poder específico, em que excede ou pode exceder (assim, uma faca excelente, um remédio excelente...), perguntemo-nos qual é a excelência própria do homem. Aristóteles respondia que é o que o distingue dos animais, ou seja, a vida racional. Mas a razão não basta: também é necessário o desejo, a educação, o hábito, a memória... O desejo de um homem não é o de um cavalo, nem os desejos de um homem educado são os de um selvagem ou de um ignorante. Toda virtude é, pois, histórica, como toda a humanidade, e ambas, no homem virtuoso, sempre coincidem: a virtude de um homem é o que o faz humano, ou antes, é o poder específico que tem o homem de afirmar sua excelência própria, isto é, sua humanidade (no sentido normativo da palavra). Humano, nunca humano demais... A virtude é uma maneira de ser, explicava Aristóteles, mas adquirida e duradoura, é o que somos (logo o que podemos fazer), porque assim nos tornamos. Mas como, sem os outros homens? A virtude ocorre, assim, no cruzamento da hominização (como facto biológico) e da humanização (como exigência cultural); é nossa maneira de ser e de agir humanamente, isto é (já que a humanidade, nesse sentido, é um valor), nossa capacidade de agir bem. “Não há nada mais belo e mais legítimo do que o homem agir bem e devidamente”, dizia Montaigne. É a própria virtude.

[T.S.Q.S]