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21 setembro 2007

Moralismos

Um dos meus blogs preferidos é o Amante Profissional. Gosto da forma como a Paula Lee escreve, gosto da forma como ela pensa.
Estive a ler uma Visão antiga, onde fala de acompanhantes de luxo, onde a Paula Lee é entrevistada e dei por mim a pensar que não seria capaz de ser uma "amante profissional". Não porque se "dorme" com um estranho mas porque não sei como abordaria o potencial cliente ou como reagiria se o potencial cliente me abordasse.
E como os pensamentos são como as cerejas o facto de não ser o facto do pagamento ou da ocasionalidade do sexo não ser o que me incomoda na prostituição faz-me perguntar: será falta de moral da minha parte?

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá "AS", como vai? (Estou escrevendo assim porque não sei se aqui no blog você revelou o seu nome).

Sou a Paula Lee, e acabei de receber o seu e-mail.

Não creio que seja uma questão de moralismo, no sentido mais cruel da palavra. Mas uma questão normal de moralismo, aquele moralismo que nos cerca desde quando nascemos.

Por exemplo, A., apesar de hoje vivermos numa sociedade mais liberal - ou pelo menos aparentemente mais liberal - em que a mulher hoje tem até o direito de abordar o homem, e não tem mais casamentos arranjados pela família, ainda somos cercados por muitos conceitos antigos, que, a gente queira ou não, podem ir contra tudo aquilo que para nós é tido como normal.

Eu por exemplo, A., nunca tinha pensado antes em ser uma "amante profissional", nunca tinha nem pensado no assunto, e encarava a prostituição da mesma forma que todo mundo encarava, e inclusive pensava as mesmas coisas a respeito, porque era o que me diziam, e, não conhecendo o meio, a minha única opção era concordar, ter como certas todas as opiniões que me passavam.

Mas concordo com o que você diz em relação a abordar o potencial cliente ou sobre ser abordada por ele. Cheguei a contar no meu livro, A., sobre um dia em que fui abordada por um homem que me propôs que fizesse um programa com ele, isso numa altura em que eu nem era garota de programa. E eu reagi de forma quase grosseira, afirmando mil vezes que não era garota de programa, que não fazia sexo por dinheiro, tentando esconder o meu constrangimento perante aquilo que me parecia uma proposta indecente e descabida. Depois enfim, quando cheguei na primeira boîte, e seria eu que tinha que abordar as pessoas... esse era o meu constrangimento maior. Nem o facto de ir para a cama com ele era tão mais constrangedor do que o facto de ter que abordá-lo, de ter que me insinuar, de ter que fazer com que ele aceitasse ir para a cama comigo. Porque "lá fora" as coisas não são assim, tão imediatas. Até podemos ir para a cama com alguém que acabamos de conhecer num bar, por exemplo, mas seguimos regras, não está explícito ali que queremos ou vamos para a cama com aquela pessoa, pode acontecer, como pode não acontecer. Mas no bordel era claro: se estou ali é para fazer sexo, se abordo um cliente ou se sou abordada por ele é porque está claro que se pretende ir para o quarto. E isso era um choque com "o meu mundo lá fora".

Sabia como abordar ou ser abordada por um homem quando o sexo não está completamente explícito, quando fazemos uma série de jogos até chegar lá, etc., mas não sabia como era, de repente, o tipo de abordagem quando está explícito o que vai acontecer. Acredite, muda tudo.

E como estava explícita a intenção, tinha que mudar a abordagem, e inclusive o meu comportamento.

Anónimo disse...

Então é isso, A., não é questão de moralismo, mas de sabermos lidar apenas com aquilo que vivemos, aquilo que é tido como normal.

Todo mundo - ou quase todo mundo - um dia namora, ou casa, ou faz sexo com alguém. Lembra do primeiro beijo? Você não sabia como era, mas suas amigas já sabiam, ou alguém lhe tinha dito como era, como aconteceria. Sim, lembro do friozinho na barriga, de ter treinado o beijo numa maçã, do sabor daquela boca... Estar conversando com um rapaz, de repente pintar um clima e a gente se beijar era completamente normal, acontece sempre à nossa volta, de certa forma até nos preparamos para isso.

Mas não estamos preparados para lidar com aquilo que não pertence ao nosso meio, ou que não é tido como algo "normal", habitual. Quantas acompanhantes são nossas vizinhas? Será que sabemos? Quanto conhecimento sobre "esse mundo" chega até nós? Não nos preparamos para isso, é simples assim esse desconhecimento sobre como nos sentiríamos ao ser abordadas ou abordar alguém com esse intuito.

Tem muita gente que acha que o sexo é igual ao sexo com um "cliente". Não é. É verdade que tenho feito algo muito humano, algo a caminhar por aí... mas no primeiro encontro sempre fico tensa, afinal não sei o que vai acontecer, não sei se vamos sentir atracção mútua um pelo outro, se vamos gostar de estar um com o outro, etc.

Quando você, na sua vida pessoal, é abordada por alguém que se interessa por você, ou você aborda alguém que te interessa, parece já conhecer essa pessoa, essa pessoa tem um rosto, e você sabe, exactamente, o que te atrai nessa pessoa.

Num bordel por exemplo, é verdade que aparecem muitos homens agradáveis, simpáticos, educados, e até mesmo que nos atrai. Mas isso não é regra. Não vou, dentro de um bordel, para o quarto com um cliente apenas porque ele me atrai. Aliás, a atracção, dentro de um bordel, é completamente dispensável. Dentro de um bordel, vou com ele por um simples motivo: ele está lá. Não me importa se é bonito, feio, inteligente, etc. Ele está lá, está claro o que ele quer, como também está claro o que faço lá.

Já na minha vida actual, a atracção também não é algo predominante. Afinal ele é um desconhecido, antes de chegar não sei se ele vai me atrair ou não. Entretanto o que faço é tentar aproximar a situação do atendimento com a situação da "vida lá fora", ou seja, tento criar um clima, descobrir afinidades entre nós, para só depois, se assim entendermos, avançar para um contacto mais íntimo. Isso, obviamente, só a experiência poderia me oferecer.

Beijinhos.
Paula Lee.

McBrain disse...

Tu não sabes como será abordar/ser abordada, porque como toda a gente sabe, és timida!

LOL!

Barba Ruiva disse...

Eu conheço-te, AS. Sei que a prostituição para ti seria um acto de extremo desespero. Na minha opinião passa-se o mesmo com todas as mulheres que se prostituem, seja em que formato for que essa prostituição acontece.

É por ser um acto de desespero que eu sou contra a prostituição legalizada. Não porque as mulheres que o fazem sejam condenáveis aos meus olhos, mas porque os homens que disso se aproveitam são do mais desprezível que posso imaginar.
Além deste aspecto também há o do moralismo, ou falso moralismo, de quem defende a legalização da prostituição...

Normalmente fala-se de legalizar a prostituição feminina, porque quem faz as leis ainda são, maioritariamente, homens. Se colocarmos na messa a prostituição masculina já serão capazes de encarar a coisa de forma diferente. Mas se, mesmo assim, quiserem manter essa falsa abertura, basta passar à prostituição infantil... Afinal, porque não? Porque será legítimo alguém ser abusado por estar desesperado de um dia para o outro? Porque é que hoje uma criança que tem 17 anos não se pode prostituir e amanhã, que já fez 18, pode? O que mudou realmente?

O problema só está na linha que cada um de nós está pronto a traçar... a minha fica bem perto. Creio que o problema da prostituição deveria ser atacado em duas frentes. Por um lado combater de forma efectiva a exclusão social e as razões que levam pessoas ao acto desesperado de se prostituir, por outro atacar não quem o faz, mas quem o consome.

Portanto, se estás preocupada com seres, eventualmente, uma prostituta disfarçada, esquece. Eu sei quem tu és e sei que o não és.

McBrain disse...

Caro BR:

Há casos e casos....

Normalmente fala-se de legalizar a prostituição feminina, porque quem faz as leis ainda são, maioritariamente, homens.

Aí és capaz de ter razão...

Se colocarmos na messa a prostituição masculina já serão capazes de encarar a coisa de forma diferente.
Huh? Porquê? É a primeira vez que ouço esse assunto abordado dessa maneira?

Afinal, porque não? Porque será legítimo alguém ser abusado por estar desesperado de um dia para o outro? Porque é que hoje uma criança que tem 17 anos não se pode prostituir e amanhã, que já fez 18, pode? O que mudou realmente?
Da mesma maneira sexo consentido com, salvo erro, menores de 16 anos é crime. Mesmo sem pagar? Acho que isto é claro. E não vejo sequer o porquê deste exemplo.

E já agora, quem o faz porque quer e deliberadamente? Ainda na sexta feira deu uma reportagem acerca de um movimento de prostitutas que o são e querem ser. Minoria? Talvez? Mas daí a dizer que são todas....
Olha para o exemplo da "Amante Profissional"...

Barba Ruiva disse...

Huh? Porquê? É a primeira vez que ouço esse assunto abordado dessa maneira?

Experimenta perguntar aos homens que defendem a legalização da prostituição o que acham se esta for de outros homens. Depois de uma amostragem razoável diz-me os resultados... Creio que a sua retracção nestes casos se prende com aquilo que acham de mulheres recorrerem aos serviços de prostitutos.

Da mesma maneira sexo consentido com, salvo erro, menores de 16 anos é crime. Mesmo sem pagar? Acho que isto é claro. E não vejo sequer o porquê deste exemplo.

O exemplo é apenas uma subida de tom no caso anterior da prostituição masculina. Chamemos-lhe uma hipérbole retórica... Evidentemente que não defendo a legalização da prostituição infantil nem o abuso de menores, mesmo que estes menores queiram ser abusados. Aliás, o recurso à prostituição é, na minha opinião, apenas um abuso consentido perante compensação monetária.
Não deixa de ser um abuso por isso. Da mesma forma que há quem abuse de subordinados hierárquicos no trabalho, por exemplo.

E já agora, quem o faz porque quer e deliberadamente? Ainda na sexta feira deu uma reportagem acerca de um movimento de prostitutas que o são e querem ser. Minoria? Talvez? Mas daí a dizer que são todas....
Olha para o exemplo da "Amante Profissional"...


Esses movimentos podem apenas estar à procura de uma forma de se legalizarem mais facilmente... Para que a sua actividade seja mais fácil e mais lucrativa. Esse exemplo fez-me lembrar uma vez que vi um stripper masculino a dizer que fazia strip por gosto. Quando alguém lhe perguntou então porque cobrava por isso, meteu os pés pelas mãos... Às vezes soa bem aos ouvidos dos outros, e mesmo aos de quem o diz, uma versão rosácea da realidade.

Mas mesmo pondo de lado algum cepticismo, então volto à questão...
E se houver menores que se queiram prostituir? Porque há-de a sociedade impor limites?
A lei é sempre uma imposição de padrões morais. Goste-se ou não, é um facto. E esses padrões morais condenam, ainda, o sexo a troco de dinheiro. Para mim o sexo é uma expressão de amor, carinho e outros sentimentos. Não um produto.

Quanto à "Amante Profissional", não conheço bem o caso, mas pelo que li dos comentários aqui feitos, também me parece que caiu na prostituição por falta de alternativas. Posso estar enganado.
Se estiver, acho que não é exemplo para ninguém. Em tempos, ou ainda, prostituiu o corpo. Agora prostitui essa experiência...