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08 setembro 2007

Eros e Psique (III)

Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu à sua procura por todos os lugares da Terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande confusão de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não se devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa no seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:

- "Psique, embora não possa livrar-te da ira de Afrodite, posso ensinar-te a fazê-lo com as tuas próprias forças: vai ao seu templo e rende-lhe as homenagens que ela, como deusa, merece."

Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde a sua raiva. Afinal, por causa daquela reles mortal, o seu filho tinha desobedecido às suas ordens e agora ele encontrava-se num leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar a sua morte.

Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.

Como segunda tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar a sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.

Não satisfeita por mais uma tarefa cumprida, Afrodite incumbiu-a de uma terceira tarefa e ainda mais complicada: teria de subir a cascata que provinha da nascente do rio Estige e trazer à deusa um frasco contendo um pouco daquela água escura. As pedras que davam acesso à cascata eram íngremes e escorregadias, e a queda da água era extremamente violenta. Era impossível satisfazer a exigência de Afrodite. Só se pudesse voar Psique realizaria a tarefa. Estava já disposta a desistir, quando surgiu uma águia, que lhe tirou o frasco da mão, voou até a fonte e apanhou uma porção do líquido negro. A água do Estige, porém, não saciou em Afrodite a sede de vingança.

Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique teria que ir ao Hades, persuadir Perséfone a colocar numa caixa um pouco de sua beleza. Como pretexto, diria à rainha dos Infernos que Afrodite precisava dessa beleza para recuperar-se das longas vigílias à cabeceira do filho doente. Psique partiu, procurando o caminho dos Infernos. Já havia andado muito e sentia-se perdida, quando uma torre, apiedada da sua aflição, ofereceu-se para ajudá-la. Minuciosamente descreveu-lhe todo o itinerário que levava ao reino de Perséfone, mas alertou-a: "você encontrará pessoas patéticas que lhe pedirão ajuda, e por três vezes terá que escurecer seu coração à compaixão, ignorar os seus apelos e continuar. Se não o fizer, permanecerá para sempre no mundo das trevas. “ Psique fez tudo o que lhe indicou a torre, e assim conseguiu chegar à presença de Perséfone. Solícita, a rainha dos mortos atendeu ao pedido da jovem e entregou-lhe a caixa solicitada por Afrodite. Ouviu então uma voz que lhe dizia: "Quando Perséfone te der a caixa com sua beleza, toma cuidado para não olhar para dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais." No entanto, Psique, tomada pela curiosidade, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou.

Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a. Lembrou-lhe novamente que a sua curiosidade tinha sido novamente a sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa. Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou-lhe que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo ao seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembleia dos deuses e a Psique foi-lhe oferecida uma taça de ambrósia. Então com toda a cerimónia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu o seu filho, chamado Voluptas (Prazer).

Eros e Psique, escultura de Antônio Canova, no Museu do Louvre, em Paris


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