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04 outubro 2013

A Madrinha do Noivo

Quando acordou, no dia seguinte, já não sentia frio algum. Pelo contrario, transpirava abundantemente. Tinha sobre ele uma verdadeira montanha de cobertores, que Cristina tinha posto sobre a cama durante a noite.
Maquinalmente, levou a mão à testa. Deu um salto na cama. A pele ardia-lhe. Devia estar cheio de febre!
- Cristina! - chamou, assustado. - Cristina!
- Já vou, Joe! - respondeu a jovem, do quarto ao lado.
Surgiu na porta, um minuto depois. Vestida como no dia anterior, muito bem penteada. Fresca e bonita como uma manhã de Primavera...
Pôs a mão na testa do rapaz e perguntou:
- Como te sentes, Joe? Creio que ainda tens febre.
- “Ainda”? - estranhou ele. - Mas quando é que eu tive febre?
- Durante a noite. Até deliraste...
O rapaz sentou-se na cama, alarmado.
- Que... que disse ao delirar?
- Nada  de especial. - Cristina corou, ao mentir-lhe. - Falavas com a tua mãe.
- Mais nada?
- Não, homem. Podes ficar tranquilo.
Não podia dizer-lhe que Joe falara no seu nome. Durante toda a noite, dizendo coisas que a faziam corar, só de pensar nelas...
- Vou buscar-te leite e umas bolachas - disse, querendo sair daquele quarto. - Também deves precisar de umas aspirinas.
- Ora, não preciso de aspirina nenhuma! - protestou o americano. - O que me faz falta é o ar livre.
- Sairás mais tarde, quando te passar a febre.
- Não posso consentir que trabalhes tanto por minha causa, Cristina!
A jovem pôs as mãos nas ancas e sorriu.
- De que trabalho falas, Joe? Não vês que tenho tudo feito na despensa? Basta-me escolher o que quero!
- Cristina, só sei dar-te maçadas... como poderei pagar-te tudo isto?
- Estando sossegado na cama.
Joe abanou a cabeça.
- Apesar de tudo, não me sinto nada mal nesta situação, percebes? - murmurou.
Perturbada, Cristina saiu. Quando regressou, com a  bandeja do pequeno almoço, viu que Joe tinha saído da cama. Perguntou-lhe asperamente:
- Joe, que disparate é este?
- Não sirvo para estar na cama, Cristina. Manda-me ficar na cadeira, junto ao fogo, obedecer-te-ei. Na cama, não!
- Mas estás com febre...
- Eu ponho esta manta sobre os ombros. - Joe pegou na manta de viagem que a jovem lhe dera. - Começo a gostar dela, sabes? Terás que ma oferecer quando eu voltar para a América.
- É tua, Joe. Ofereço-ta. Mas promete-me que serás um doente obediente.
- Está bem, Cristina. Lembrar-me-ei sempre de ti, quando olhar para esta manta...
- Até casares. Depois, a tua mulher atirá-la-á ao fogo, com ciúmes.
- Não fará isso, pois nunca lhe contarei a sua história.
Os olhos de ambos encontraram-se, maquinalmente. Mas havia um tal fogo nas pupilas de Joe que Cristina teve que baixar o rosto, precipitadamente.
- Cristina... - disse ele, com voz rouca. - Creio que... que estou a apaixonar-me por ti!
- Ora, não digas disparates! - Cristina tentou ironizar, enquanto pousava a bandeja sobre a mesa.
- É verdade. Sinto uma coisa estranha quando estou na tua presença.
- É da febre.
- Não é nada da febre, Cristina. Se te disser que me aperta o coração quando penso que terei de partir para a América e deixar-te...
Cristina ficou muito séria.
- Joe, não digas disparates ou eu zango-me - ameaçou.
- Não são disparates, Cristina. Começo a gostar de ti.
A rapariga avançou para a porta. Antes de sair disse, com ar sério:
- Será melhor não falares mais nisso, para que continue a correr tudo bem entre nós.
- Está bem, Cristina. Se é isso que queres...


Escrito em Abril 1998.

4 comentários:

Anónimo disse...

E a Harlequim deixou este escapar?
[T.S.Q.S.]

Timido disse...

Devias ter sido escritora...

Está muito bom... Pena não ver o desenrolar da história...

AS disse...

Tímido, se quiseres eu coloco o final. :)

Timido disse...

AS, fico à espera...